quarta-feira, 30 de março de 2011

Termina a luta de José Alencar contra o câncer

A luta de José Alencar, 79 anos, contra o câncer terminou ontem. O ex-vice-presidente da República morreu às 14h41, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de falência de múltiplos órgãos, depois de resistir, por mais de 13 anos, a um câncer na próstata. Tinha à sua volta a mulher, Mariza, os três filhos e os netos. Ao longo de mais de uma década, foi submetido a 17 cirurgias. A brava resistência de Alencar à doença, que sensibilizou todo o País, sempre foi enfrentada com realismo e extremo senso de humor. “Eu não tenho medo da morte. O homem tem de ter medo é de perder a honorabilidade, especialmente na vida pública. O homem que não perde a honorabilidade não morre. Não morre para os filhos, os ancestrais, os amigos, os patrícios. Agora, quando o camarada faz coisa errada, em vida pode se considerar morto, porque ninguém quer se aproximar dele. Quando Deus quer levar, leva, independentemente do câncer”, declarou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2009.

Velório será no Palácio do Planalto

O governo federal decretou luto oficial de oito dias pela morte do ex-vice-presidente José Alencar. O corpo de Alencar deve sair hoje às 6h30 de São Paulo, em avião da FAB para o Palácio do Planalto, onde será velado a partir das 10 horas. O sepultamento deverá ser quinta-feira, em Belo Horizonte Em Brasília, o corpo do ex-vice-presidente será transportado em carro aberto do Corpo de Bombeiros por uma das principais via da capital federal, da base aérea ao centro da cidade. Haverá também velório no Palácio da Liberdade, no dia 31.

A presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula foram informados da morte de Alencar em Portugal. Ambos chegam hoje ao Brasil para participar do velório. O presidente em exercício, Michel Temer, afirmou que Alencar enfrentou o câncer com “galhardia exemplar”. “Embora enfrentasse uma tragédia pessoal, ele soube revelar a harmonia interior. O Brasil perde uma de suas grandes e expressivas figuras, tanto no setor empresarial como no setor público”, completou. Temer.

A última aparição pública de Alencar foi na cerimônia do aniversário de São Paulo, quando recebeu a Medalha 25 de Janeiro e, emocionado, conseguiu falar por nove minutos. “Deus sabe o que faz e aceitaremos sua decisão de bom grado. Se eu morrer agora, tenho até que me sentir um privilegiado, pois está todo mundo rezando e torcendo por mim. Não posso me queixar se eu morrer”, declarou na ocasião, ao lado de Lula e Dilma.

Alencar lutou até o fim, trabalhando mesmo enquanto estava internado para se recuperar de cirurgias ou se submeter a sessões de quimioterapia, sempre otimista. Cada vez que recebia alta e deixava o hospital, caminhando ou numa cadeira de rodas, explicava à imprensa, sem rodeios, como estavam sua saúde e sua disposição de espírito.

A última internação foi na segunda-feira, quando o ex-vice-presidente apresentara um quadro de obstrução intestinal com perfuração abdominal e peritonite (infecção na membrana que protege a cavidade abdominal). Devido a seu estado crítico, os médicos descartaram qualquer procedimento cirúrgico. Nos últimos momentos de vida, Alencar recebeu analgésicos para aliviar a dorMinutos antes de o hospital confirmar a morte, o médico-cirurgião Raul Cutait, que acompanhou Alencar ao longo da luta contra o câncer, afirmara que o paciente se preparava “para descansar”.

Na segunda-feira, Alencar foi internado com quadro de suboclusão intestinal, depois de passar 11 dias em seu apartamento da Alameda Itu, na capital. No ano passado, foram várias idas e vindas entre o hospital e sua casa.

Empresário bem sucedido em Minas Gerais, Alencar foi o fiador da aliança política que aproximou o setor produtivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e viabilizou a eleição do petista em 2002. Nos oito anos do governo Lula, (2003-2010), o mineiro foi um recordista: ocupou interinamente a Presidência por 450 dias, exatos um ano e 85 dias. Sepultamento vai ser em Belo Horizonte

A morte José Alencar levou governo mineiro a decretar ontem luto oficial de sete dias no Estado natal do ex-vice-presidente. Na quinta-feira, o corpo de Alencar será velado no Palácio da Liberdade, antiga e suntuosa sede do Executivo estadual - que o então empresário chegou a disputar, em 1994 -, antes de ser enterrado em Belo Horizonte.

Nascido no Distrito de Itamuri, em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931, o empresário José Alencar ficou conhecido nacionalmente na eleição presidencial de 2002, quando o PT o apresentou como candidato na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alencar faleceu no início desta tarde, em São Paulo, segundo confirmou o oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês.

Rico e bem-humorado, o “patrão” que avalizava a candidatura do ex-líder sindical doou, oficialmente, R$ 3 milhões para a campanha, deixou as empresas definitivamente sob a chefia do filho Josué Gomes da Silva e percorreu cidades e grotões ao lado de Lula, compartilhando gritos e palmas de multidões, nos comícios animados pela dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano

O homem que iniciou a carreira política só aos 63 anos, quando concorreu sem sucesso ao governo do Estado, nunca precisou esperar uma viagem de Lula para assegurar espaço na imprensa. Com discursos que expressam as opiniões da classe empresarial, Alencar fez do cargo uma função de destaque na mídia em plena Era Lula, uma época marcada pela grande exposição da figura do presidente, com discursos carregados de metáforas facilmente compreendidas pela população.Em 2 de janeiro, a sala do vice era uma das poucas com as luzes acesas na área central de Brasília, que abrange a Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios. Enquanto boa parte das autoridades prolongava a folga de ano-novo, Alencar despachava com assessores.

Em tratamento desde 1997 contra a doença, Alencar disse que não considerava correto omitir informações sobre a saúde, um comportamento raro na política brasileira, marcada por dramas como o internamento repentino do presidente eleito Tancredo Neves à véspera da posse, pela situação clínica do governador de São Paulo, Mário Covas, e, mais distante no tempo, pela agonia do presidente Costa e Silva durante mais de cem dias de internação.

“Nunca omiti nada, mesmo porque o homem público não é dono de si Ele tem de ser transparente mesmo, inclusive nisso”, afirmou. “Exerço função pública, eletiva, com a maior responsabilidade. As pessoas têm de estar informadas. Provavelmente, isso tenha criado esse mito de força. Eu não sou mais forte do que ninguém. Sou uma pessoa absolutamente normal.”

Mesmo em momentos mais críticos da enfermidade, o ex-vice não deixava de fazer comentários sobre a taxa de juros determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), e de reclamar dela.

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